por Viviane Gago
Demorei a escrever desde o último artigo, vez que resolvi me dedicar integralmente às lindas pessoas que apoiei esses últimos meses! Foi MARAVILHOSO! Como diz uma amiga querida “é um apoio que consiste em ações, que provocam um retorno positivo do Universo!” E é isso que me nutre! Agradeço a cada uma destas pessoas que estiveram comigo, foi muito enriquecedor! Já estava com o presente tema na cabeça, porém, só agora resolvi escrevê-lo.
Pois é, quais são os nossos limites? Quando pensamos, falamos de limites, visto o tema ser substancialmente amplo, muitas coisas podem vir à cabeça, por exemplo: os limites face a nós mesmos, os limites face aos outros, que conosco interagem e, ainda, os limites face a determinadas situações, coisas etc. O fato é que a palavra limite, de acordo com o uso que lhe é dado, encontra vários significados.
Em termos gerais, por limite, se chama qualquer tipo de restrição social, física, legal, entre outras. A palavra limite, substantivo masculino e proveniente etimologicamente do latim limitis, também está relacionada a tudo aquilo que marca um fim para algo, também pode ser uma divisão física ou simbólica separando territórios e nações. Além disso, o referido termo é, também, o objetivo/o fim o qual pode ser alcançado a partir do corporal, espiritual ou, ainda, atingir um determinado tempo. No campo da matemática podemos falar de limite de uma função, limite de uma sequência. O marco e a fronteira são sinônimos de limite e podemos citar como antônimos a eternidade e a imensidão.
Neste breve artigo, para reflexão, vou tangenciar nos limites face a nós mesmos e também um pouco; nos limites que devemos ter face aos outros que interagem conosco, que, sob o meu ponto de vista, fazem com que tenhamos uma vida mais equilibrada, feliz e saudável. Entendo que limites, para nós da raça humana, é algo necessário quando falamos dos relacionamentos com outras pessoas.
Iniciarei pelo primeiro aspecto, limites em face de nós mesmos, recorrendo de uma memória/vivência minha, obtida em viagem com a família neste ano, em que presenciamos a superação do homem face seus próprios limites. Uso esse exemplo, porque me trouxe grande impacto, vez que foi uma experiência da minha própria vida. Estávamos na cidade de Innsbruck, Áustria, fazendo um “reconhecimento da cidade”, como diz o meu marido, Militar do Exército, e caminhávamos rumo a um dos pontos mais altos da cidade, um mirante, para ver do alto a cidade e sua beleza! Depois de uma bela caminhada morro a cima e do apoio do elevador para nos levar ao ponto mais alto, deparamo-nos com uma enorme pista, cuja finalidade, mais precisamente, é para a prática de esqui nos “Jogos de Inverno”.
Era mês de Julho, verão europeu, ou seja, não havia neve, mas, mesmo assim, os esquiadores utilizam a pista para a prática e treino, pois a rampa de deslizamento é feita de grama sintética, que é molhada de tempos e tempos, visando obter a mesma similitude da falta de aderência proporcionada pela neve.
Tivemos a felicidade de ver o que aqueles jovens e preparados atletas faziam naquela enorme pista! Confesso que a bela vista ficou para segundo plano. Quando vi os jovens atletas, com seus corpos e uniformes perfeitos, descendo aquela pista altíssima, em uma velocidade alucinante, com os equipamentos de praxe, tendo como segurança e proteção da vida somente a sua própria precisão técnica e controle emocional. Questionei-me, emocionada: qual o limite para o ser humano? Quais os limites que temos face a nós mesmos?
Cheguei à seguinte resposta: “não há limites”, em especial quando a pessoa estudou, planejou, treinou e, por fim, executou tudo de acordo com um bom trabalho prévio. Os saltos e performances que presenciei foram excepcionais! O ser humano, quando se prepara e quer algo, é capaz de tudo! Testemunhar o trabalho realizado por esses atletas foi uma das emoções mais fortes da minha vida! Penso que as pessoas só não têm possibilidades infinitas, só não podem viver quantos papéis/versões quiserem , só não conseguem atingir metas e ter uma missão de vida alinhada com quem realmente são, quando elas acreditam que não tem esse poder. Do contrário, podem tudo, não há obstáculos, não há limites que as impeçam de viverem felizes e com todos os requisitos que façam sentido para elas! Agir com o coração! Lembrando que isso significa ter coragem para encarar de frente os limites, quebrando, transpondo os que, muitas vezes, nós mesmos nos impomos!
Acredito que nós somos nossos melhores amigos e, ao mesmo tempo, nossos piores inimigos. Acionando o que há de melhor em nós mesmos, nossas forças e potenciais, tudo podemos. E os nossos limites com relação às demais pessoas? Aqui o viés sobre esse tema já é diferente. Lendo bastante a respeito do assunto, deparei-me com o fato de que muitos sofrem simplesmente por não saberem impor limites, no caso em tela, entendido como restrições para viver melhor. Não sabem dizer “não” , por exemplo, e estão, internamente, sob a pressão de realizar todos os desejos dos outros. Acreditam que precisam corresponder a todas as expectativas alheias e receiam dizer “não”, pois temem o abalo do seu sentimento de pertencer a um determinado grupo ou porque imaginam que isto poderia gerar a rejeição deles por parte das outras pessoas. Em outros casos, percebe-se uma incapacidade de delimitar o seu espaço diante daqueles que o rodeiam. Os limites se desfazem e esse tipo de pessoa torna-se permeável ao que os outros sentem, sem que tal fato constitua em algo positivo e/ou construtivo.
Em uma época de crescente aceleração e constantes exigências a que a sociedade está submetida, modifica-se também a forma como sentimos a vida. Tudo ao mesmo tempo, imediatamente e a qualquer hora: sociedade “nonstop”. Os seres humanos perseguem incessantemente a felicidade ou aquilo que julgam ser felicidade. A nossa era sofre da falta de medida de limite, o que transparece não apenas na vida pessoal, mas também, cada vez mais, no contexto profissional, em que a pressão crescente pelo dinheiro, poder, status etc, conduz a uma carga de trabalho que, frequentemente, excede o limite do suportável, do que é equilibrado e, ainda, muitos julgam que precisam se sobrecarregar mais e mais para se afirmarem.
Atualmente, não existem mais limites de tempo, podendo/devendo tudo ser resolvido simultaneamente. Quando viajamos para outro país, por exemplo, mesmo assim queremos manter contato com o nosso país, o que muitas vezes nos gera uma sobrecarga. Ao invés de nos programar/planejar para vivenciar somente aquilo que nos propusemos, nesse caso a viagem, ou seja, aprendermos outras formas de viver, experimentarmos outro tipo de comida e de religião, enfim, de “entendermos o mundo além do nosso”. Muitas vezes as pessoas não vivem a experiência da viagem e também não ajudam no que deixaram por um período, pois, por vezes, estão impedidos física e emocionalmente, ou seja, acabam perdendo dos dois lados: o do lazer e o da vida que momentaneamente deixaram.
O fato é que a falta de limite, independentemente do contexto onde surge, não é benéfica para o ser humano, podendo, frequentemente, fazê-lo adoecer. Alguns terapeutas acreditam que o crescente aumento de depressão, ansiedade, pânico etc seja um “grito de socorro diante da falta de limite”, que obriga o ser humano a se recolher. A depressão, por exemplo, o protegeria do perigo de se dissolver, isso é uma tese em relação a qual merece reflexão, pois nunca a sociedade esteve tão doente sob o ponto de vista relacionado às emoções; sendo essa questão inclusive mundial. Penso que o ideal é se chegar a um equilíbrio, pois, se por uma lado o homem, face a ele mesmo, pode não ter limites para chegar onde almeja e fazer o que quiser, a exemplo dos atletas de Innsbruck; por outro, face a outros e também as várias situações, precisa ficar atento à relação de equilíbrio entre proximidade e distância tanto de outros, quanto de situações. Existe um grande desafio para as pessoas: o de descobrirem e protegerem os seus próprios limites e, simultaneamente, o de desenvolverem a sensibilidade para os limites dos outros e os respeitar.
Cada um possui seu próprio limite e o seu modo de lidar com ele, não cabe a ninguém julgar tal fato, todavia, a consideração com o limite do outro, além de muito importante também, provavelmente contribuirá para o sucesso dos encontros e das relações. E mais, haverá situações que quando estas relações interpessoais estiverem bem sedimentadas/estruturadas, em alguma medida, a transposição desses limites poderá ser benéfica. Vejamos, que não se trata de assunto fácil. Na vida real, os encontros/relações vivem de consideração e transposição do limite, quando não vamos além do nosso limite, enxergamos o outro apenas de longe, todavia, quando ultrapassamos, de forma inadequada o nosso limite e o do outro, pode haver um apoderamento e não um encontro ou relacionamento. Ao mesmo tempo, o real encontro envolve a transposição de limites, e alguma coisa flui entre nós e o outro, e a troca ocorrerá além dos limites. Mas esse cenário quando a relação estiver em um nível de intimidade muito grande, estruturada e consistente.
A sensibilidade de saber onde estamos em cada cenário e até onde podemos ir, é fundamental quando falamos de limites. Assim, as relações terão sucesso quando os envolvidos encontram o equilíbrio entre proximidade e distância, demarcação de limites e transposição dos mesmos. A forma de lidar com os próprios limites e os do outro é condição para a durabilidade , a vivacidade e a construtividade das relações.
Quais são os seus limites?
Você conhece os seus?